Cabo Ligado Update: 24 de Junho - 7 de Julho de 2024

Resumo da situação

A actividade do Estado Islâmico de Moçambique (EIM) foi mínima nas últimas duas semanas, com ACLED a registar apenas quatro eventos de violência política. No entanto, os insurgentes parecem ter restabelecido uma presença na parte continental do distrito de Palma, onde estão baseados os projectos internacionais de gás natural liquefeito, pela primeira vez desde Fevereiro de 2023.

No dia 27 de Junho, foram relatados disparos na aldeia de Quelimane, no distrito de Mocímboa da Praia, na estrada para Palma. O EI alegou ter matado uma pessoa, mas isso não foi corroborado. Nesse dia, os insurgentes também foram vistos na floresta de Namalala, perto de Olumbe, no distrito de Palma. Dois dias depois, os insurgentes decapitaram um homem nos arredores de Pundanhar, segundo a Carta de Moçambique. No dia 30 de Junho, os insurgentes atacaram um camião que transportava alimentos na mesma estrada, fora da aldeia de Mute, no distrito de Palma. O camião atravessou a emboscada e o motorista escapou, mas o ajudante do motorista saltou do veículo e morreu. Mais tarde, o EI reivindicou a responsabilidade pela morte de uma pessoa no ataque

A actividade do EIM também foi relatada no distrito de Ancuabe, com informações deturpadas a levarem as forças de segurança a disparar contra trabalhadores da mina de grafite GK, de propriedade alemã, a 24 de Junho, acreditando que havia insurgentes na área. Os trabalhadores fugiram quando o tiroteio começou e até a data não foram confirmadas quaisquer baixas.

O Estado Islâmico (EI) alegou ter matado uma pessoa com um engenho explosivo na aldeia de Nguri, distrito de Muidumbe, no dia 6 de Julho, mas esta alegação ainda não foi confirmada por outras fontes.

No distrito de Chiúre, os habitantes locais acusaram a Força Local de extorquir a população, cobrando até 50 Meticais pela utilização das estradas, informou a Zumbo FM. A população de Macomia também continua a queixar-se de comportamentos abusivos por parte das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique. Muitos vivem com medo de extorsão, detenção arbitrária e violência sexual, afirmou uma fonte.

No dia 7 de Julho, a estrada N380 entre as vilas de Macomia e Awasse foi reaberta depois de ter estado encerrada durante uma semana, alegadamente porque a Unidade de Intervenção Rápida da polícia, que fornece escoltas armadas, tinha falta de combustível.

Foco: Intervenção da RDF a Macomia

À medida que o último grupo das forças da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) deixa Moçambique, um novo contingente das Forças de Defesa do Ruanda (RDF) prepara-se para ocupar o seu lugar. Um grupo avançado da RDF já foi enviado para gerir a logística da sua deslocação para o distrito de Macomia – a área da província mais afectada pela insurgência.

A RDF está a determinar o local da sua base, fontes de água e uma linha eléctrica para apoiar as suas operações, segundo fontes de Cabo Ligado. As mesmas fontes sugeriram que não ocuparão a base de Xinavane construída pela Força de Defesa Nacional da África do Sul (SANDF) em 2021 para o seu forte contingente militar de 1.400 homens. Este formidável acampamento foi o principal centro de operações da SAMIM no norte de Cabo Delgado.

Os ruandeses deverão entrar em Macomia em força a 15 de Julho, formalmente o último dia da SAMIM. A RDF aumentou a sua força com novos reforços de 2.000 soldados e policiais enviados de Kigali para Nacala a bordo da companhia aérea nacional RwandAir. O tamanho do novo contingente corresponde à força fornecida pela SAMIM. Uma força tanzaniana continuará estacionada no distrito norte de Nangade, ao abrigo de um acordo bilateral com Moçambique. A sua principal tarefa é impedir movimentos insurgentes e linhas de abastecimento através do rio Rovuma, na fronteira.

À medida que a RDF aumenta a sua presença para além das suas áreas tradicionais de responsabilidade nos distritos de Palma, Mocímboa e Ancuabe, enfrenta numerosos desafios. Os insurgentes permanecem concentrados ao longo da costa entre Mucojo e Quiterajo, e nas densas florestas de Katupa, na fronteira com os distritos de Muidumbe e Mocímboa da Praia, depois de a SAMIM não ter conseguido desalojá-los destes locais. Resta saber se os ruandeses adoptarão uma abordagem mais ofensiva.

Os ruandeses também terão de fazer um esforço sério para reparar as relações com a comunidade local, uma vez que muitos em Macomia têm sofrido tratamento brutal às mãos das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique. Os ruandeses também provocaram ressentimentos recentemente, nomeadamente em Mocímboa da Praia, onde tentaram afastar os vendedores ambulantes da entrada da vila para um mercado comercial, segundo a Zumbo FM. A RDF terá de agir com cautela para evitar agitação civil.

Resumo de Notícia:

SAMIM conclui oficialmente a sua missão em Cabo Delgado

A SAMIM concluiu oficialmente ontem a sua missão militar contra a insurgência apoiada pelo EI na província de Cabo Delgado, antes da data final da sua partida,15 de Julho. Durante uma cerimónia de despedida em Pemba, o Ministro da Defesa, Cristóvão Chume, afirmou que os esforços conjuntos da SAMIM e das forças de segurança moçambicanas infligiram baixas significativas aos insurgentes. No entanto, reconheceu a continuação dos ataques insurgentes e a insegurança persistente entre a população. A SAMIM entregou ao governo moçambicano várias armas capturadas, incluindo oito RPG-7, PKM, uma metralhadora, um morteiro, 70 AK-47, sete pistolas, uma AKS/SAR, uma espingarda G3, foguetes, munições e cartuchos, bem como 800 livros sagrados islâmicos.

Força tanzaniana permanecerá em Cabo Delgado

No dia 2 de Julho, o Presidente Filipe Nyusi visitou a Tanzânia, um aliado fundamental na luta de Moçambique contra a insurgência apoiada pelo EI em Cabo Delgado. No dia anterior à sua viagem, Nyusi confirmou que a Tanzânia continuará a operar a sua força de 300 efectivos no distrito de Nangade, no norte da província, após a retirada da SAMIM. Nyusi alertou que os insurgentes podem aproveitar a saída da SAMIM como uma oportunidade “para tentar mostrar que existem. ”

França disposta a reforçar a cooperação em segurança e combate ao terrorismo com Moçambique

A União Europeia continua paralisada quanto à questão de fornecer 20 milhões de euros adicionais para financiar a intervenção militar do Ruanda em Cabo Delgado, segundo a Africa Intelligence (AI). Portugal e França são fortemente a favor da aprovação dos fundos, mas países como a Alemanha, os Países Baixos e a Suécia permanecem céticos, informou a AI. Isto surge no momento em que o Presidente Emmanuel Macron disse que a França está pronta para reforçar a cooperação com Moçambique nas questões de segurança e contra-terrorismo, numa mensagem dirigida ao Presidente Nyusi para assinalar o 49º aniversário da independência de Moçambique.

Magistrado destaca alta taxa de absolvição de suspeitos insurgentes

Os supostos insurgentes capturados em Cabo Delgado são muitas vezes absolvidos por falta de provas, segundo o presidente da Associação Moçambicana dos Magistrados do Ministério Público, Eduardo Sumana. Em 2019, 37 pessoas foram condenadas por acusações de terrorismo e outras 100 foram absolvidas, na sua maioria por falta de provas. Em 2023, 74 pessoas foram indiciadas e apenas duas foram condenadas.

Moçambique ignorou plano de combate ao terrorismo proposto pelos EUA, diz embaixador cessante

Os Estados Unidos propuseram um programa de combate ao terrorismo ao governo moçambicano no final de 2021 mas não obtiveram resposta, segundo o embaixador norte-americano cessante Peter Vrooman. Ele disse aos jornalistas que também teve uma reunião com o Presidente Nyusi e o Secretário de Defesa americano Lloyd Austin em Setembro passado e esperava que Moçambique respondesse detalhando o que precisa para ajudar a combater o terrorismo. Vrooman não entrou em detalhes sobre o conteúdo do programa proposto. Fontes do Ministério da Defesa de Moçambique afirmam que o governo dos EUA já está ciente das suas necessidades de segurança e combate ao terrorismo.

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